terça-feira, 17 de abril de 2012

"A Ver Navios"

Então galera...

O texto que lerão, faz parte de um momento importantíssimo de minha vida. O motivo de expô-lo a todos é porque vi conexão com o tema dessa atividade.

No ano de 1988, fomos convidadas a participar de um concurso de prosa e poesia, eu e mais as alunas do 4º ano do curso do antigo Magistério. Aconteceram muitas coisas durante a preparação desse evento inédito no Colégio, mas o que quero enfatizar neste, é a motivação que me fez querer participar do concurso. A premiação!

As melhores produções seriam publicadas num livro e pessoas ilustres seriam convidadas a assistir num único dia de apresentação com direito de receber um exemplar do livro autografado na página do nosso poema em todos os períodos de aula: manhã, tarde e noite. Os convidados compunham de pais, alunos, professores os gestores da escola e de algumas escolas vizinhas, estariam também presentes, os Supervisores da Delegacia de Ensino.

Vejam, estou dizendo que um evento como este acontecera no final do século passado na década de ‘80’, nos moldes da política educacional da época, numa instituição pública da rede estadual de ensino acontecer um evento como este, era de grande magnitude e único para qualquer aluno.

Os classificados declamariam seus poemas num palco e poderiam interpretá-lo da forma que considerassem melhor. E ao som da música HOUSE OF THE RISING SUN, interpretado pelo grupo Animals, declamei o poema “A VER NAVIOS”.

O bom desta pequena narrativa (para vocês entenderem o porquê da escolha deste poema), é que fora a partir de um ‘pequeno’ incentivo da minha professora de Literatura Infanto Juvenil na época, despertar nas alunas ‘despercebidas’, futuras professoras das séries iniciais, que podíamos criar, escrever algo importante e significativo, podíamos fazer coisas que não sabíamos que podíamos. Incrível, não é mesmo?

E quando estou ministrando aulas de Literatura para alunos do EM, antes de apresentar-lhes qualquer obra literária, conto este fato e explico com detalhes dos acontecimentos, e como surgiu em nós alunas de 17 (dezessete) anos, que não tínhamos o hábito de escrever, porque não gostávamos ou porque não nos incentivavam, começamos a partir de um novo acontecimento no Colégio, produzir poemas, crônicas, histórias infantis, assim... de repente. E quando percebo que os alunos atentos na minha ‘contagem de causos’ começo a declamar este poema na sala de aula, onde os ouvintes são jovens que curtem outras letras e ouvem outras vozes.

Mas a semente está lançada, porque inicia aí um trabalho de biografia e de composições, inicia a partir deste, um trabalho de curiosidade e indagações e, penso que o jovem precisa disso ser cutucados a querer saber, porque quando ficam ‘curiosos’ saem a busca das coisas e aí... tudo flui.

A VER NAVIOS

Olhei-me e vi-me transparente.

Olhei-me bem profundo, no fundo da minha mente.

Que fiz de bom, oh inútil?

Que fiz? Que construí?

fui sempre um fútil.

E agora me vejo aqui neste cais a ver navios,

indo e vindo...

alguns com a sua importância chegam a ser imortais.

Tomara que eles vão e não mais voltem,

talvez assim me percebam e notem.

“Ei! Estou aqui!”

Não...não adianta gritar porque eles não vão me escutar.

Afinal quem sou eu neste mundo de Deus?

E eu estou aqui no final de uma vida

tão mal vivida.

Será que dá tempo de ver, uma criança

nascer, crescer, viver ou morrer

para mim ou por mim?

Não!

Do fundo d’alma, olho-me com desprezo e calma.

Só me resta continuar passivo diante do impossível,

Que é viver!

Só me resta a ver navios e esperar e,

Ver o fim dos meus dias chegar.


Claudia Soraia Rocha
(nome de solteira)

P.S.: alguém por acaso já ficou 'a ver navios'?

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